A Copa passou e a Holanda mais uma vez não ganhou. Eu assisti ao tenso jogo final no meio da nossa viagem para Paris, sozinho com a Carla no apartamento. Os holandeses, esperando uma grande festa, reuniram-se para torcer, e em nenhum lugar da Holanda a reunião foi tão grande quanto na Museumplein em Amsterdam. Participando da multidão cor-de-laranja estava o Ronnie, do Marina e Ronnie, amigão que conhecemos aqui na Holanda. Ele gentilmente concordou em contar pra gente como foi a experiência de ver uma final de Copa fora do Brasil e no meio da torcida do time participante. O que segue abaixo é o relato dele. Ronnie, muito obrigado. Em 2014 a gente comemora junto a vitória do Brasil, hein? — Daniduc.
Bem amigos da Rede Grobo, estamos aqui direto de Amsterdam pra presenciar mais uma final de Copa do mundo... assim diria, ou provavelmente disse, Galvão Bueno, o figura mais amado e odiado, mas sempre lembrado, especialmente morando distante da terrinha e ouvindo a narração dos jogos em holandês. Essa foi uma das primeiras diferenças que sentimos ao assistir aos jogos da Copa: os narradores daqui narram sem emoção. Um gol é só um gol, quando esperávamos que fosse um desesperado grito: Gooooooolllll!!!!!
Mas vamos à final da WK, ou Copa do Mundo, que é o assunto do momento. Amsterdam estava agitadíssima, meus amigos holandeses estavam esperançosos, mas ao mesmo tempo receosos por enfrentar a temível Espanha, campeã da última Eurocopa, o time de toques precisos e intermináveis que fez a Alemanha por o rabinho no meio das pernas.
A grande preocupação deles era o que iria acontecer se a Holanda ganhasse a Copa. Como seria a comemoração? Dá pra entender, visto que no último (e único) título que ganharam, naquele time com Gullit, Rijkaard e Van Basten da Eurocopa de 1988, a alegria foi tão grande que de tanto as pessoas pularem em cima, afundaram 9 casas-barco. Pra este ano, quem tinha casa-barco foi logo tratando de atualizar o seguro e fazer o inventário.
No dia do jogo, também estávamos preparados, vestimos nossa armadura laranja, ou o que tínhamos desta cor, e fomos pra batalha final. Queríamos presenciar uma possível vitória holandesa junto com os holandeses. Opções viáveis: Museumplein, Westpark ou Leidseplein. Fizemos um esquenta antes na casa da nossa amiga Carol e com o jogo já quase começando ainda estávamos decidindo aonde assistir. Bem, no Westpark os portões fecharam umas 4 da tarde, pois o parque já estava lotado. A Leidseplein provavelmente já estaria totalmente tomada, pois teríamos que assistir dentro de algum bar. Solução: ir pro Museumplein, espaço tradicional para manifestações e festas populares, algo como a Av. Paulista ou a praia de Copacabana. Sabíamos que estaria lotada também, mas pelo menos era aberta. A expectativa era de 65 mil pessoas pra assistir o jogo da final.
![Turma vestida de laranja pronta pra ver o jogo](http://www.ducsamsterdam.net/wp-content/uploads/2010/07/P1020358.jpg)
Armaduras laranjas a postos pra batalha. (Foto de arquivo pessoal de Ronnie Kinoshita, usada sob permissão)
Chegamos na praça as 20h35. O jogo tinha acabado de começar. A torcida estava tensa. Ficamos lá atrás, quase nas últimas fileiras. Sinceramente, não deu pra ver muito bem o jogo, pois na nossa frente sempre tinha uns paredões laranjas de pelo menos 1,80m. Na turma do fundão ainda ficava a galera completamente desinteressada pelo jogo. Uns bêbados querendo criar encrenca em quem esbarrava, umas pessoas sentadas no chão, umas conversando de costas pro telão. Vimos que eles não eram tão fanáticos assim por futebol, nem na final da Copa do Mundo. Imagina a tensão que estaria cada brasileiro na av. Paulista.
![Final da Copa 2010](http://www.ducsamsterdam.net/wp-content/uploads/2010/07/P1020342.jpg)
Copa? Ah, achei que esse era o uniforme oficial de beber cerveja na Holanda... (Foto: Ronnie Kinoshita)
A cada cartão amarelo pra Holanda, uma série de xingamentos, a cada um pra Espanha, uma comemoração como se fosse um gol. Imagina quantos xingamentos e comemorações houve durante o jogo. No intervalo, aproveitamos que a galera deu uma relaxada e tentamos nos mover mais pra frente pra poder enxergar melhor. A estratégia deu certo e ao começar o 2º tempo estávamos mais perto dos telões. O ambiente também estava mais calmo e os torcedores começaram a apoiar mais o time gritando: Holland! Holland!
No embalo da torcida a Holanda foi pro ataque, Robben teve duas chances cara a cara com o goleiro. Uuuuuhhhhhhh.....perdeu as duas. Veio a prorrogação, o jogo tenso, a torcida receosa com a superioridade espanhola ensaiava mais uns Holland! Holland! O juiz não parava de distribuir cartões, mais xingamentos e comemorações, até que ele sacou um vermelho para Heitinga, o zagueiro Oranje. Ouvi um: Fuck! Agora fud**.
A Espanha continuou pressionando com mais volume de jogo e quando todos já estavam preparando seus corações para a disputa de pênaltis, aos 27min da prorrogação, Andres Iniesta, o motorzinho espanhol, emplaca um gol que desceu seco pela garganta de todos lá. Por instantes um silêncio. Instantes que foram longos, até o apito final alguns minutos depois. A Espanha se livrava do estigma de "quase lá" e ganhava seu primeiro caneco mundial. Parabéns Espanha. E foram todos em silêncio e cabeça baixa pras suas casas.
Dois dias depois, uma atitude bonita. Mesmo perdendo a final e ficando com a segunda colocação na Copa do Mundo, a prefeitura de Amsterdam preparou uma super homenagem para o time holandês. Primeiro os jogadores foram a Den Haag, aonde encontraram e receberam os cumprimentos da rainha Beatrix. Depois pegaram um helicóptero e desceram na base naval de Amsterdam, para então entrarem num barco aberto e desfilarem pelos canais de Amsterdam até uma recepção final no Museumplein, que novamente ficou laranja para receber os quase-histórico heróis holandeses. Fica pra próxima. Boa sorte à Holanda em 2018....porque 2014 é nossa! Vai Brasil-sil-sil.
Se quiser ver mais relatos de jogos da Copa 2010 na Holanda, veja: Holanda 2 x 0 Dinamarca e Brasil 1 x 2 Holanda. Pra mais fotos da final, veja o Marina e Ronnie.
O artigo Final da Copa do Mundo de 2010 em Amsterdam foi retirado de Ducs Amsterdam.