Eu nunca havia ouvido falar de Sail Amsterdam até ela se tornar uma coisa impossível de se ignorar: estava nas notícias, nos blogs e por todo o resto da Internet relacionada à Holanda. O maior evento naval do país, cinco dias que só se repetem a cada cinco anos! A última havia sido em 2005, quando eu morava no Brasil e nem desconfiava que saberia como era "vela" em holandês. Fiquei curioso e fui descobrir o que rolava na Sail Amsterdam 2010.
Primeiro, a história do evento
A origem foi em 1975, quando comemorou-se o heptacentenário de Amsterdam [1]. Parte das celebrações era um evento naval no porto de Amsterdam, na época a "Sail Amsterdam 700", contando com grandes veleiros do mundo todo, chamando a atenção pra cidade e seu porto. Tem sentido, sendo Amsterdam uma cidade intrinsecamente naval, com a marinha mercante sendo parte de sua essência.
Acontece que os veleiros fizeram grande sucesso, todo mundo gostou do evento e resolveram fazer outro em 1980 e depois repetir a cada cinco anos. Pra isso fundaram em 1977 a Stichting Sail Amsterdam (SSA, Fundação Sail Amsterdam). Sail é vela em inglês e o nome do evento ficou sendo Sail Amsterdam. Vela em holandês é "zeil" (pronto, agora você também sabe), mas de maneira tipicamente amsterdanesa, eles foram pro inglês mesmo.
[1] Apesar da cidade existir antes de 1275, foi neste ano que os seus habitantes ganharam isenção do pedágio devido ao bispo de Utrecht, tornando-a pela primeira vez autônoma. Os direitos de cidade vieram em 1306.
O que rola
Bom, grandes veleiros da Holanda e do resto do mundo vêm pra Amsterdam, desfilam pela baia à frente da cidade (het IJ, fale o agá de het como em inglês e o IJ como éi). Depois eles ancoram ao longo das docas orientais (Oosterdoks, aliás uma das áreas bem interessantes da cidade, independente do evento) e podem ser visitados gratuitamente. Há veleiros históricos e centenários, e réplicas novas de veleiros históricos, há veleiros modernos, há barcos de todos os tamanhos andando pra todo lado. Há também festas, shows, desfile de barcos caseiros mal se sustentando à tona dos canais de Amsterdam (teve um feito de garrafa PET), música, comida de rua e, todo dia às 22h00, um show de fogos de artifício pra encerrar. Parece divertido? Foi o que eu achei também, e pra lá fui no sábado, já que morando em Haia não conseguiria ver os cinco dias (foi de quinta, dia 19 até segunda dia 23 de agosto).
De Haia à Amsterdam
Ir de Haia (Den Haag) até Amsterdam é bico. Tem um trem que liga as duas estações centrais e sai de meia em meia hora (em Haia é nos minutos 28 e 58 da hora). Em 50 minutos estávamos na Amsterdam Centraal (Centraal tem dois aa mesmo, é em holandês), bem na frente da baía e da multidão de barquinhos. De lá, foi andar e andar e andar. E fotografar, claro 
Hora do rush naval: água tomada de embarcações
Logo no começo, um tremendo trânsito de barcos, barquinhos e barcões (acho que isso não são termos nauticamente corretos, né?)
Água dentro d'água :)
Os grandes veleiros
Nós acabamos não entrando em nenhum navio. Havia muita fila e, como chegamos um pouco tarde, eu queria andar e ver mais os navios por fora mesmo.
Típicas nuvens holandesas davam mais autenticidade à coisa toda.
Criança é que nem gato: a gente dá o brinquedo e eles brincam com a embalagem. Esses daí ignoraram o veleirão e ficaram se divertindo na boia :)
Navegação sincronizada :)
Os tripulates desse navio estavam vestidos à caráter!
Marujos cantando e dançando. Nenhum deles fumava cachimbo ficando, portanto, impossibilitados de fazer "puu puu" depois de dizer "eu sou o que sou e é isto que sou!"
A ilha do tesouro
Numa brilhante estratégia de marketing corporativo (sem ironias), o ING patrocinou uma "Ilha do tesouro" pra gurizada se divertir. Vários.. "marujos" organizavam atividades enquanto os pais tiravam uma merecida folga, olhando os filhos cavarem a areia em busca de tesouros escondidos.
Um veleiro sueco, uma réplica de 5 anos de outro bem mais antigo, estava ancorado ao lado e posava de "navio pirata". Ah, se eu me pilhasse num lugar desses quando eu tinha 10 anos de idade e era apaixonado por histórias de piratas (eu havia acabado de ler a Ilha do tesouro)... bem, tive de me divertir agora, fazer o quê, né?
Mas se você estiver por Amsterdam com um guri ou uma guria e não calhar de ter uma Sail Amsterdam, ainda dá pra ir visitar um "navio pirata"! É só ir até o Navio Amsterdam, que está ( no momento) ao lado do Nemo.
Fila pra subir no veleiro sueco
Fogos de artifício
O dia ia chegando ao fim, mas ainda havia mais uma atração: os fogos de artifício. Paramos em um bar pra enrolar até as 22h00 e descansar um pouco: o pessoal que havia chegado mais cedo do que nós estava andando o dia todo e cansados.
Quando estava quase na hora, o pessoal liberou a entrada na Javabrug (Ponte Java), ou o que restou dela: estava aberta no meio para permitir o intenso trânsito de navios. Subimos nela e conseguimos uma boa visão pros fogos...
E foi uma boa escolha. A queima começou na hora marcada, e pouco a pouco foi envolvendo a todos, as pessoas gradualmente se envolvendo em ohs e ahs conforme a baia ia colorindo-se ao ritmo das explosões cada vez mais elaboradas. Tudo culminou em uma salva de palmas que logo foi acompanhada de todos os navios abrindo suas sirenes, numa saudação coletiva de arrepiar. Foi bonito.
Fim de festa: 2015 tem mais
Voltamos para Haia cansados e felizes no começo de madruga. Demos sorte com o dia, chegou a fazer bastante sol, não choveu, encontramos amigos e vimos algo que não vemos normalmente. Foi um belo passeio por um mundo de aventuras encostado há tempos e fiquei feliz em reencontrar dentro de mim o moleque de 10 anos que cresceu, mas nunca me abandonou.
Ah, mas se você estiver vindo aqui com crianças e não vai esperar 2015, eu escrevi um artigo sobre programas para crianças em Amsterdam.
O artigo Grandes veleiros visitam Amsterdam: Sail 2010 foi retirado de Ducs Amsterdam.